Para organizar o curso sobre
ciência na educação infantil, que estamos realizando agora, nós nos baseamos nos princípios do trabalho com projetos (que foi o nosso curso anterior, o
Trabalhando com projetos). Ou seja, nós usamos a mesma metodologia e os mesmos referenciais para planejar o curso atual como um projeto de trabalho com as professoras.
Leiam abaixo como elaboramos isso...
Nossa ação no mundo se dá como práticas sociais e culturais que aprendemos com os outros seres humanos, desde os primeiros instantes em que chegamos a este mundo. Viver esse cotidiano da vida tanto faz com que elaboremos um conhecimento a respeito desse próprio cotidiano como faz com que reproduzamos o conhecimento desse e sobre esse cotidiano que outros – com quem convivemos ou não – já elaboraram. Referimo-nos aos
conhecimentos típicos do senso comum. Mas para viver esse cotidiano da vida, muitas vezes, também recorremos aos conhecimentos religiosos.
No fazer humano elaboramos, ainda, outros
tipos de conhecimento: o filosófico, o mitológico, o artístico e o científico. Podemos ter acesso a partes desse
conhecimento científico por meio de revistas especializadas, programas e noticiários da televisão, documentários etc. A escola também é um agente de socialização desse conhecimento, ainda que o conhecimento científico nessa instituição educativa já não seja exatamente o conhecimento elaborado pelos cientistas (Chassot, 2000; Barros, 1998; Caniato, 1989). Quer dizer, o conhecimento científico na escola passa por uma seleção, organização e apresentação que faz com que ele não seja propriamente o conhecimento científico, mas, sim, um
conhecimento científico escolarizado.
Nós, professoras, não somente lidamos com esse modo de trabalhar como também fomos e somos formadas por ele. Assim, o que fazemos e o que podemos
fazer na educação infantil está diretamente relacionado a esta formação, entre outros elementos formativos. E não nos referimos somente às ciências da
natureza. Em nosso saber-fazer pedagógico há outras ciências envolvidas, ainda que não tenhamos consciência plena disso, como por exemplo, a psicologia. Nesse trabalho pedagógico – que também é constituído histórica e socialmente – com um conhecimento científico escolarizado, seguramente, há erros e acertos,
dependendo do referencial tomado para análise.
Organizar encontros para
refletir acerca das relações entre a criança, a natureza e a sociedade requer, consequentemente, que
indaguemos nossas certezas e dúvidas advindas desse e sobre esse trabalho pedagógico com um conhecimento científico escolarizado. Pensamos, então, em dois eixos reflexivos fundantes desses encontros: as nossas concepções sobre a aprendizagem em ciências e ciência na educação infantil. Denominamos esses eixos de
ciência adulta e
ciência infantil, respectivamente. Assim, ciência adulta e infantil – eixos que se interpenetram na escola – paralelamente orientarão nosso trabalho nos encontros.
Deste modo organizaremos nossas ações para tratar do
problema que é a razão desses encontros: tomando a pesquisa como princípio educativo (Demo, 2001) como
fundamento para a educação em ciência na educação infantil contribuir para fazer da
pergunta-ação-reflexão-resposta (Freire e Faundez, 1985) a nossa pedagogia num projeto de trabalho.
Referências bibliográficas
BARROS, Susana de Souza. Educação formal versus informal: desafios da alfabetização científica.
In: ALMEIDA, Maria. José P. M. e SILVA, Henrique César da.
Linguagens, leituras e ensino da ciência. Campinas-SP: Mercado das Letras/ALB, 1998. P. 69-86.
CANIATO, Rodolpho.
Com ciência na educação. Campinas: Papirus, 1989.
CHASSOT, Attico. Alfabetização científica: novas alternativas para novas exigências.
Educação em Foco. Juiz de Fora: Editora UFJF, v. 5, n. 1, p. 29-42, mar-set 2000.
DEMO, Pedro.
Pesquisa: princípio científico e educativo. São Paulo: Cortez, 2001.
FREIRE, Paulo e FAUNDEZ, Antonio.
Por uma pedagogia da pergunta. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.
por Maria Inês Barreto Netto